Contos, Fotos e Histórias do Marquês da Ajuda, Cacela e Sta Rita

sexta-feira, dezembro 02, 2005

CONTO X

O tempo da Nora ainda não tinha chegado.
Venâncio Figueira continuava estendido no melhor fato com o seu caixão. Ninguém queria deixá-lo só! Não fosse acontecer o mesmo que ao velho Lester,do romance de Caldwell a Estrada do Tabaco, em que os ratos devoraram quase todo o lado esquerdo do rosto e parte do pescoço.
- Quando o médico chegou já tinha morrido !
Quantas vezes já morrera meu pai na boca de minha mãe ?
Quantas vezes já eu ouvira as palavras da morte dele nas bocas dos outros ?
- Se estivesse em Lisboa talvez se salvasse - disse um cavalheiro com palavras cheias de fumo da civilização e dos recursos extremos. Lisboa é a cidade onde não se morre ?
Ou morre-se a viver ?
- É uma cidade onde nada falta - acrescentou.
Como deve ser grande a dor numa cidade assim !
Em todo o mundo se morre. Mortes ignoradas e necessárias.
Meu pai morrera a sua morte necessária, irremediável, da mesma maneira como vivera.
Lutando arduamente, rijamente, pelas coisas onde cravara as raízes das suas ideias. E dos seus sonhos, talvez !

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