Contos, Fotos e Histórias do Marquês da Ajuda, Cacela e Sta Rita

segunda-feira, novembro 07, 2005

CONTO V


Ainda no Faustino entre dois cafés o pai do marquês mentalmente:

Que diferença entre a vida daquele tempo e a de agora ! - pensei.
- Sentidos pêsames. Sinto muito. - disse uma dessas antiguidades que não reconheci.
- O menino já não me conhece ? - A sua cara não me é estranha.. . .
Sou o Arvela. Trabalhei lá em casa de seu pai, que Deus tenha a alma em descanso.
- Trabalhava na horta - explicou minha mãe.
- Já sei quem é - disse eu sem me recordar de nada.
- Quem havia de dizer que o menino ainda havia de ter um futuro tão bonito.
Se o Arvela soubesse o que era a minha vida e o que valia para mim teria ficado calado para não ofender as minhas intimidades. Mas via-me de gravata, com o fato preto do luto por meu pai, e julgava que eu tinha vindo do mundo onde tudo é abundantemente realizado. Não sabia de que mundo eu viera para estar ali, quase impessoal. Não lhe disse que o fato preto servira para o meu casamento e que estivera no guarda-fato sob a vigilância da naftalina aguardando a morte dos outros e a minha. Para que houvesse a decência dos outros no destino das tragédias vestidas de preto. Não disse nada.
Minha mãe continuava a chorar a mesma desgraça, com as mesmas palavras, os mesmos suspiros e quase as mesmas lágrimas que lhe desciam dos olhos para irem escorregando pelas faces até as beber. -
Tudo mudou - pensei

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