Contos, Fotos e Histórias do Marquês da Ajuda, Cacela e Sta Rita

terça-feira, agosto 08, 2006

Complexo de Ofélia (a origem)

Complexo literário-afectivo
A ofélia dormia na cozinha, debaixo de um banco com uma toalha por cima para evitar a entrada da luz matinal e preservar a intimidade do por do ovo. Ofélia gostava de despertar com o sol já alto e passear-se um pouco por aquela dependência antes de sair para o quintal onde divagava o resto do dia até ao ocaso. Então voltava à cozinha ao seu poiso debaixo do banco. A ofélia fazia parte de uma família oriunda do Alentejo e que estabelecera poiso numa casa dos Olivais velho. Eram três fêmeas e um cágado. Para além da ofélia, que era sozinha, as outras duas fêmeas eram mãe e filha. O cágado não tinha nada a ver com a família, sendo apenas o animal de estimação e, assim, o seu elemento político.
Quando se mudou dos Olivais para Sintra a ofélia sentiu inicialmente alguma inadaptação, apesar do banco a ter acompanhado. Era o apartamento em cave, o quintal todo empedrado sem um pouco de terra para esgravatar e sobretudo um negro de cor preta, que se confundia com a noite e de olhar de raposa que também habitava o apartamento. Ofélia tinha habitado o Olivais paradisíaco, das hortas, minhocas, carreirinhos de formigas, casulos de insectos, pequenos charcos de água, floreiras e um quintal de esgravatar. Olivais era a selva da Ofélia, o seu habitat de galinha selvagem, como se gostava de sentir, lançando pequenas corridas a pardais que também apareciam pelo quintal, a tirar partido do seu trabalho esgravatado.

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